quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Sertão é do tamanho do mundo"

Foto: Kenard Kruel.


Começo aqui com esta frase emblemática subtraída de Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa para tentar amenizar as agonias deste final de semana no centro maranhense, nas barrancas do rio flores. Mas não tratarei deste centro, nem deste rio que já tem seus olheiros de plantão, seus poetas entranhados atrás dos umbrais.

Meu destino é Altos de João de Paiva no Piauí, meu destino é o sertão do Piauí que é, também, do tamanho do mundo, para tratar da utopia que ainda verve nas veias do homem bom do sertão, duro como pedra de parede, pedra, então: Mestre Ogier e seus moinhos, ousadia na doideira com os tempos medievais, tempos memoriais oferecidos em outras barrancas.

Mas não é de palavra e nem de alusões líricas que os dédalos encravados na terra batida de Altos faz sonhos, eles são levantados pelas histórias de assombrações, nas tradições orais dos terreiros, nas entrelinhas das hipérboles dos cantos dos violeiros, nos cordéis encantados, nos pavões misteriosos da lua sempre cheia a iluminar veredas e destinos assoprados em flauta de cavaleiros e suas damas.

Mestre Ogier é um desses seres com asas de mariposa a desenhar riscos no sertão, no mar que um dia será, seja nos labirintos do sopro louco, mas que tem um fundo de todas as verdades.

O castelo tem seu dono no interior do Piauí e é o que vale neste sertão de tamanho indefinido, o mundo tem seu dono temporal em Altos a carregar em cangas de animais pedra por pedra, a lutar contra todos os moinhos das adversidades, dos tempos contrários e do lugar comum. E Mestre Ogier nunca precisou de escudos e nem escudeiros para vagar no lúgubre e no rumorejo do sertão deste Piauí. A cada pedra carregada, a cada teia desfeita, este mestre continua intacto a menosprezar a limitação do dia, a escuridez da noite sem ter cavalos de qualquer cor, nem lança que se quebra ao primeiro toque.

Mestre Ogier, nos confins piauienses, nos impõe mais uma lição: “sertão é do tamanho do mundo”.

(*) Emerson Araújo ainda quer construir um castelo.

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